2006 (janeiro) – Lagos e torres chilenos

Fazia mais de um ano que não viajava.  Pela primeira vez minha mãe ia ficar com uma acompanhante.  Procurei um lugar mais ou menos perto, o acesso nem era tão fácil assim.  Por poucos dias, para irmos nos acostumando.

Ω  O roteiro: Um passeio até Torres del Paine, pacote fechado do hotel Explora.  E uns dias em Santiago do Chile, que é sempre bom.

Tudo começava chegando em Santiago, onde precisava passar uma noite e seguir em outro voo para Punta Arenas no dia seguinte.

Fiquei hospedada no bairro de Providência.  Fui caminhando até o teleférico para subir o Cerro San Cristóbal.  Aproveitei a tarde de muito sol, conheci a piscina pública, fui aos mirantes e desci pelo outro lado, no plano inclinado até o bairro de Bela Vista.

Minha saída para o aeroporto era muito cedo, tomei um café da manhã improvisado e me levaram para o aeroporto.  O voo terminava em Punta Arenas.  Daí, em transporte do Hotel Explora Salto Chico, mais conhecido como Explora Patagônia, os visitantes seriam levados até dentro do Parque Nacional Torres del Paine para hospedagem.

É um programa fechado.  Todos entram no mesmo dia e saem no mesmo dia.  Não tem entra e sai diário de hóspedes.  O preço varia de acordo com o tipo de alojamento e quantos pernoites de hospedagem.  As opções eram de 3, 4 ou sete noites.  Eu tinha o de 4 pernoites.  Todos os programas, refeições com bebidas e recursos do hotel estão incluídos.

Durante a estadia, são oferecidas opções diárias de expedições acompanhadas pela equipe de guias do hotel, de acordo com as condições climáticas no momento, com saídas em van, cavalgadas ou caminhadas de diversas dificuldades.

O desembarque em Punta Arenas foi rápido e logo estavam diversas caminhonetes a caminho do Hotel Explora.  Uma parada para lanche no ponto de descanso da própria empresa e vamos seguindo.  A chegada foi no fim da tarde, com tempo para uma palestra sobre a temporada e disponibilidade dos serviços antes do jantar.

Éramos apenas 4 brasileiros, reunidos numa mesa.  O restaurante fica estrategicamente colocado quase em cima do Salto Chico, que dá nome ao hotel.  Meu quarto tinha vista para a cordilheira del Paine.  Acordar com aquele visual era para começar bem qualquer dia.

Para o primeiro dia escolhi uma caminhada longa, de dia inteiro, que acabei não fazendo.  Eu ainda usava lentes de contato, apesar de não estar com elas naquele frio e vento gelado.  Quando a caminhada começou, os olhos se ressentiram, comecei a lacrimejar demais, comecei a fungar o nariz, passei a respirar pela boca.  Perdi o ritmo e tive que parar.  Não conseguia abrir os olhos e se abrisse apenas lacrimejavam e eu ficava cada vez mais nervosa.

1 Lago Pehoe e Cuernos del Paine

No lago Pehoe, voltando da caminhada frustrada.  Ao fundo os Cuernos del Paine.

O guia conseguiu avisar ao barco que eu ia voltar.  Eles me esperaram e retornei ao hotel.  Fiquei sem fazer nada naquela manhã.  Os olhos ficaram bem vermelhos mas um pouco de colírio resolveu.  Por sorte ainda havia vagas para uma das caminhadas da tarde, que foi muito boa, mais curta e com menos vento.  O destino era o mirante do lago Nordenskjöld, nome do explorados sueco que o descobriu no início do século XX.

A paisagem é o ponto de referência.  Um detalhe que chamou a atenção de todos foi a forma arredondada das touceiras de vegetação, uma metade de esfera quase perfeita.   A explicação é de que se trata de uma defesa contra o vento forte dali.  A trilha por onde se caminha é um traçado suave, determinado pelo deslocamento em fila dos guanacos.

2 Nordenskjöld

Foto completa: ao fundo o lago Nordenskjöld, a trilha suave dos guanacos e a vegetação em touceira redondas.

No segundo dia estávamos somente os quatro brasileiros e o guia para caminhar até o lago Sarmiento.  Nenhum de nós tinha pressa, parávamos para olhar, tirávamos fotos, comíamos um biscoito.  O guia ficava angustiado, querendo logo chegar ao destino.  Percebendo a pressa dele, acabamos por conversar e avisar que estávamos ali para desfrutar, sem correr.  O argumento dele é que tínhamos almoço de churrasco de carneiro para ir.  Combinamos parar menos e correr menos.

No caminho até o almoço, uma parada perto dos guanacos em liberdade, alguns ainda bem jovens.  E outra para as raposas, quase perfeitamente camufladas na vegetação.

4 Guanacos na volta de Sarmiento

Enfim encontramos guanacos.

Chegamos bem a tempo para o churrasco, muito bom, feito à maneira antiga, na fogueira.  Depois havia passeio a cavalo, o que de nenhum jeito é um programa de minha escolha.  Assim mesmo Perdi o ritmo e tive que parar.  Não conseguia abrir os olhos e se abrisse apenas lacrimejavam e eu ficava cada vez mais nervosa.

5 Cavalgada e torres

Meu heroico passeio a cavalo, com as Torres del Paine acompanhando.

Pedi um cavalo que fosse bem tranquilo, quase idiota, e recebi um chamado Diablo.  O nome não recomendava, mas ele era dócil e bonzinho.  Claro que fiz o passeio mais curto.  Sempre com os picos que dão nome ao parque nos olhando.

Para o último dia, pela manhã fizemos um passeio até o lago Grey, com as águas de degelo do glaciar de mesmo nome.  A guia comentou que era um dos lugares mais ventosos do parque, mas nossa caminhada teria ventos de apenas uns 60 quilômetros por hora.  Acho que nem foi tanto assim.  O lugar é um delírio de bonito e tranquilo.  Preferi não fazer o final da caminhada e ficar deitada no chão ouvindo o barulho da água e os estalos dos blocos de gelo.

6 lago grey

O cenário mais bonito foi o lago Grey.

Para a parte da tarde, ofereceram outro passeio a cavalo.  Eu e o menino brasileiro fomos.  Mas os cavalos não eram gentis como os da fazenda e desistimos.  Preferimos ir para a piscina.

A piscina era coberta e aquecida, mas ficava longe do prédio principal.  Tinha que ir todo agasalhado, trocar de roupa lá, tornar a trocar e as agasalhar para voltar.  A passarela nos dava, como sempre, lindas paisagens.  Complicada foi a volta, já com aquele vento de fim de tarde e fazendo um frio danado.

3 hotel Explora

Hotel Explora Salto Chico.

Achamos estranho não haver ninguém com os cavalos nem na piscina.  Só mais tarde descobrimos que muita gente tinha usado a última tarde para dormir e descansar, preparando-se para as horas de estrada e avião do dia seguinte.

A hospedagem no Hotel Explora foi ótima. Salões envidraçados para não perder nem um minuto de paisagem, alojamento de primeira, bons passeios, comida de primeira, vinhos chilenos acompanhando.  Para cada quarto deram uma coleção de livros com a história e poesias sobre a região.  Havia em vários idiomas, eu ganhei em espanhol.  Não é um programa para quem não gosta de andar, para mim já era um pouco demais.  Não há visitas em jipes, mesmo que haja acesso; tudo é feito caminhando.  Mas valeu a pena.

Os comboios de transporte saíam em vários horários, de acordo com os voos dos hóspedes.  Paramos na mesma estância de chegada para um lanche.

No caminho pedi para fazer uma parada na beira de um lago onde havia cisnes de pescoço preto.  Fui abrir a porta para fotografar e quase que o vento leva a porta e eu, um susto para mim e para o motorista.  Fiquei bem sem graça pelo vexame.

No avião, fiquei numa janela e deu para ver os campos de gelo.  São um espetáculo.

Voltei ao mesmo hotel de Santiago.  E tinha um dia livre para rever aquela cidade que gosto bastante.

Fui até o mercado, onde já havia movimento para o almoço, mas não quis comer tão cedo, apesar da fama e do cheirinho delicioso.  Revi a Catedral, as ruas de pedestres no centro, fiz algumas compras, entrei no Palácio de La Moneda.  Aproveitei o fim da tarde no bairro Providencia.

7 interior La Moneda

Pátio no interior do Palácio de la Moneda.

O voo de retorno também era muito cedo e foi outro café da manhã improvisado.  Ainda estava escuro quando cheguei no aeroporto.  Eu não gosto destes horários, mas era o que existia na época.

De todo o passeio, fiquei com pena de não ter conhecido Punta Arenas, onde talvez pudesse haver um giro rápido na chegada ou na saída, dependendo do horário.  Puerto Natales é bem mais perto do hotel, mas não há opção de transporte nem oferta de visita à cidade, que de passagem pareceu bem simpática.

Encontrei tudo bem na volta, minha mãe sem problemas e o cachorro tranquilo.

 

 

 

Autor: recordandominhasviagens

Terceira idade, aposentada e viajante ainda na ativa. Se puder, leia meus posts e descubra mais sobre mim.

6 comentários em “2006 (janeiro) – Lagos e torres chilenos”

  1. O mundo é um livro e os que não viajam, lêem apenas uma página: Viajar é somar conhecimento, é viver novas culturas, é se encantar pelo mundo.
    Viajar é sonhar de olhos abertos.
    Boas viagens minha amiga.
    Bjs.
    PS. Adorei a foto do Lago. Mas depois que vi o inverno ferrado ( não tão ferrado como em outros lugares), mas, nesmo assim, estou fora. Quero viajar fora do inverno. Kkkk

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